Tratado de arquitectura de Vitrúvio - contextualização, formação do arquitecto, proporções.
Os “10 livros de arquitectura” (De Architetura), de Vitrúvio, foi escrito no século I a.C., na época de Augusto, e está dividido em 10 livros sobre arquitectura e o papel do arquitecto. Este tratado terá sido dedicado ao Imperador Augusto para agradecer a pensão concedida. É dirigido ao grande público, aos que encomendam e a quem pretende possibilitar a construção sem a ajuda dos grandes arquitectos. Vitrúvio resolveu escrever este tratado para deixar um monumento à posteridade, uma vez que não foi um arquitecto de muito sucesso. Por ter sido o tratado mais antigo a chegar até nós, tornou-se o tratado de Arquitectura por excelência.
Vitrúvio exigia que o arquitecto tivesse uma ampla formação intelectual, ou seja, deveria ser hábil na escrita (para manter de forma escrita uma memória duradoura); deveria também dominar o desenho e a geometria (para projectar e elaborar correctamente representações em perspectiva); as leis da óptica (eram necessárias para conseguir uma iluminação adequada); e a aritmética (para os cálculos dos custos e das relações de proporção); a história (para compreender a ornamentação e o seu significado); a filosofia (forma o caracter do arquitecto, essencial para aspectos morais e éticos); a música (está ligada com a balística); a medicina (para erigir uma arquitectura sã e em consonância com o clima); conhecimentos básicos da legislação (relacionada com a construção); e de astronomia (por causa dos relógios de sol). A ciência da arquitetura era complexa e exigia um conhecimento vasto da parte do arquitecto. Portanto, os conhecimento do arquitecto tinham de ser muito vastos. Este afirma que a deveria corresponder a 3 categorias: firmitas (solidez), venustas (beleza) e utilitas (utilidade).
As proporções arquitectónicas estavam definidas em 3 pontos de vista, como relação das partes entre si, como dependência de todas as medidas em relação a um módulo referencial e como analogia com as proporções do Homem. Segundo o tratado, um rosto correspondia a 3 narizes, e a altura total do homem deveria ser 10 vezes o seu rosto. Em seguida tenta ajustar a figura humana às formas geométricas do círculo e do quadrado e com isso estabeleceu uma associação entre Homem, geometria e número, que atinge o seu auge com o chamado “Homem Vitruviano”. Apesar de não existir desenho ilustrativo na época, existem as interpretações de Césare Cesariano, Perrault, Fra Giocondo e Leonardo da Vinci. Vitrúvio afirma que todas as medidas derivam do corpo humano, por exemplo, o número 10 era um número perfeito, e por isso, corresponderia aos 10 dedos, sendo 10 também os livros de arquitectura.
Há também uma semelhança entre as medidas do corpo humano e as proporções das colunas, por exemplo, a coluna dórica corresponderia ao corpo masculino, grosso e rubosto (1/7), enquanto a coluna jónica seria um corpo feminino, por ser mais esbelta e alta (1/9).
A partir da época carolíngia há um real interesse por Vitrúvio e a partir dai irá aumentar até ao Renascimento. Vários humanistas, filólogos e arquitectos, como Albert, Giorgio e Rafael foram fortemente influenciados por este tratado.