Cimento de Hidróxido de Cálcio – Ca(OH)2
O hidróxido de cálcio tem como principal função as suspensões para forro cavitário, capeamento pulpar e serve como base protetora intermediária.
A utilização clínica dos materiais a base de hidróxido de cálcio dependerá da situação, e podendo ser utilizado em diferentes formas de apresentação, tais como: pó (Pró-Análise – P.A.), pasta, cimento, solução e suspensão. As formas P.A. e pasta, são empregados em casos de proteção pulpar direta. O cimento é empregado na proteção indireta do complexo dentino-pulpar, como curativos temporários e fixação de próteses provisórias
·Propriedades do Hidróxido de Cálcio
1.Atividade antimicrobiana – ocorre devido ao seu pH alcalino e está relacionada à dissociação iônico em íons hidroxila e íons cálcio. Essa liberação de íons hidroxila altera as propriedades da membrana citoplasmática bacteriana, prejudicando as funções vitais como metabolismo, crescimento e divisão celular. Essa dissociação iônica ativa enzimas como a fosfatase alcalina, estimulando a formação de dentina secundária, além de que o pH básico favorece a hemostasia e causa necrose superficial das células pulpares, induzindo as células mesenquimais indiferenciadas a se diferenciar em odontoblastos que consequentemente irão produzir dentina reparadora, promovendo a formação da ponte dentinária.
2.Efeito cauterizante - sobre a polpa exposta causando uma necrose superficial por coagulação, reduzindo a liberação de mediadores químicos da inflamação proporcionando uma recuperação mais rápida e completa do tecido pulpar, culminando na formação de uma barreira mineralizada.
3.Baixa condutibilidade térmica, mas essa propriedade não fica evidenciada devido a sua fina espessura de aplicação. (dentina secundária e reparadora são as mesmas?)
Em geral seus aspectos positivos incluem baixo custo, fácil aplicação e considerável efetividade quando empregado corretamente, além de seu pH entre 11 e 12 conferir um papel bactericida e bacteriostático
4.Baixa resistência mecânica, o que dificulta a sua aplicação direta sob materiais restauradores condensáveis, tornado uma condição crítica em capeamentos pulpares e consequentemente restringindo-se basicamente a forramentos cavitários em áreas que não suportem cargas excessivas.
5.Solúvel em meio bucal
6.Não apresenta adesividade às paredes cavitárias
·Reação de presa
Os componentes responsáveis pela presa são o hidróxido de cálcio e um salicilato que reagem para formar um dissalicilato de cálcio amorfo.
·Mecanismo de ação
A ação desse material ocorre por meio de atividades enzimáticas como: inibir as enzimas bacterianas (efeito antimicrobiano: bacteriostático ou bactericida), e ativar enzimas teciduais como a fosfatase alcalina, promovendo um efeito mineralizador.
A pasta de hidróxido de cálcio quando em contato com a polpa causa a formação de uma pequena camada de tecido necrótico, que por fim desenvolve uma camada calcificada e pode solubilizar e estimular a liberação de moléculas dentinárias bioativas que estimulam a formação de tecido calcificado.
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·Manipulação
O cimento de hidróxido de cálcio quimicamente ativado é fornecido comercialmente em duas pastas diferentes: uma catalisadora e uma base. Ambas devem ser dispensadas em quantidades iguais sobre uma placa de vidro ou bloco de papel impermeável descartável e manipulada com o próprio aplicador de hidróxido de cálcio por 5 a 10 segundos. Por apresentar presa rápida, 2 a 3 minutos, a homogeneização deve ser realizada de maneira rápida e eficiente, até a obtenção de uma cor uniforme e viscosidade adequada. Sua inserção na cavidade deve ser realizada com o auxílio do aplicador de hidróxido de cálcio (quantidade de meia esfera) na porção mais profunda (região mais próxima da polpa), evitando excesso e contato com as paredes circundantes. O aumento da umidade e temperatura diminui o tempo de presa e de trabalho.
Cimento de Óxido de zinco e eugenol
·Tipos e finalidades:
Tipo I: cimentação e restaurações temporárias
Tipo II: restaurações provisórias (longa duração) e cimentação permanente
Tipo III: restaurações provisórias e base para isolamento térmico
Tipo IV: forrador cavitário (proteção contra irritantes químicos)
·Composição:
Tipo I:
Pó: ZnO + Acetato
Líquido: Eugenol purificado + óleo de cravos
Tipo II:
Pó: ZnO + Acetato + Res. Sintéticas ou naturais
Líquido: Eugenol + Plast. (óleos) + Resinas + Água
Tipo III:
Pó: ZnO + Acetato + Res. Sintéticas ou naturais
Líquido: EBA + Eugenol + Plast. (óleos) + Resinas + Água
·Reação de presa:
Apresenta-se como uma mistura de pó (óxido de zinco) e líquido (eugenol), onde a mistura necessita de água para a solidificação. A reação ocorre quando o óxido de zinco entra em contato com a água, formando hidróxido de zinco. Esse hidróxido de zinco reage com o eugenol, formando como produto o eugenolato de zinco e água. Assim, o subproduto formado (água) reage com outra molécula de óxido de zinco, formando-se um ciclo, dando uma estabilidade dimensional por uma reação estável. Devido a essa característica da reação, o cimento torna-se cada vez mais firma, resultando em uma característica acentuada de resistência.
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·Reação química
OZn H20 à Zn(OH)2
Zn(OH)2 + Eug à Eug. Zn + H2O
·Propriedades:
1.Bom selador: permite um bom vedamento marginal
2.Ação terapêutica sobre a polpa, além de promover a formação de dentina secundária
3.Baixa solubilidade nos fluídos bucais
4.Baixa resistência mecânica (incorpora-se à substâncias para aumentar a resistência)
5.Ótimo isolante térmico
6.Bactericida e bacteriostático
·Manuseio
Proporção de 3 gotas de eugenol para ½ espátula nº 24 de óxido de zinco. Misturar aos poucos os 2 compostos com a espátula 24, até que se obtenha uma pasta homogênea, a qual possua um aspecto brilhoso na luz, que não agarre na espátula e nem no vidro. Com o auxílio da espátula nº 1, aplicar a quantidade desejável no dente, até que haja um determinado preenchimento da cavidade e um vedamento marginal. Posteriormente, realizar os ajustes finais com um algodão molhado juntamente da pinça clínica para algodão, e molhar a pasta para que aconteça a reação entre a água e o óxido de zinco. Ocluir o manequim, e se houver excesso, retirá-lo.
Cimento de Fosfato de Zinco
·Composição:
Pó: Óxido de zinco (90%) e óxido de magnésio (10%)
Líquido: Ácido fosfórico, água e sal de Al e Zn
·Indicação de uso
1.Bases cavitárias
2.Restaurações provisórias
3.Cimentação de peças protéticas
·Propriedades:
1.Boa resistência a compressão
2.Solubilidade
3.Alta acidez nas primeiras horas (por isso, não é recomendado em casos de proximidade com a polpa)
4.Alto módulo de elasticidade
5.Baixa condutibilidade termina e elétrica
6.Baixo custo
·Reação química
2H3PO4 + ZnO à Zn3(PO4)2 + 4H2O
·Reação de presa
O ácido fosfórico ataca as partículas de óxido de zinco e magnésio, reagindo e diminuindo seus tamanhos, formando uma solução de fosfato de zinco, com precipitado em forma de cristais. As partículas de MgO e ZnO diminuem de tamanho pela reação e passam a apresentar um gel de alumínio fostato de zinco em volta delas. A presença dessas partículas confere ao cimento uma maior resistência. Por ser uma reação, deve-se uma utilizar uma placa de vidro grossa, utilizando todo seu espaço para que o calor seja dissipado. O fosfato de zinco gruda na dentina por embricamento mecânico e não por afinidade química.
·Manuseio
Ler a bula. Agitar o pó e o líquido e descartar a primeira gota do líquido (para retirar a possível bolha de ar presente no conta gotas). Dispor pó e líquido de acordo com o fabricante (retirando o excesso de pó, caso haja), deixando uma pequena quantidade de pó no canto da placa. Utilizar o frasco na vertical, em uma posição de 90º. O liquido não deve ser dispensado antes do pó ser dispensado e dividido e estar pronto para uso (visto que, o liquido possui água em sua composição, a qual tende a evaporar). Dividir o pó em 6 partes, e acrescentar as porções de pó da menor para a maior porção. Misturar, com o auxílio de uma espátula nº 24, por 15 segundos cada porção. Lembrar de utilizar toda o espaço da placa de vidro, para poder dissipar todo o calor gerado pela reação. Grudar a espátula no material e puxar para cima (o fio formado deve ter a consistência de um fio que não quebra). Levar o material ao dente, com o auxílio do pó reservado no canto da placa; as paredes circundantes devem estar limpas. A placa de vidro deverá ser limpa com uma mistura de água com bicarbonato de sódio.
Cimento de Ionômero de Vidro
·Composição
Pó: partícula de vidro, sílica, alumina e fluoretos
Líquido: ácido poliacrilico (terminações de carboxila), ácido itacônico, ácido tartarico, ácido malêico e água
OBS: O ácido poliacrílico torna o CIV capaz de aderir à estrutura dental. Ele é considerado superior a vários tipos de cimento porque é aderente e translúcido.
·Indicações de uso
1.Cimentação de peças protéticas e ortodônticas
2.Base e forramento das cavidades dentárias
3.Restaurações provisórias e definitivas
·Propriedades
1.Adesão a estrutura dentária
2.Liberação de flúor
3.Biocompatível
3.1.Compatibilidade biológica
Os cimentos de ionômero de vidro são considerados materiais biocompatíveis. A eficiente capacidade de vedamento marginal (assim como o OZE), impedindo a penetração bacteriana e seus efeitos deletérios à estrutura dental é o principal efeito biologicamente favorável deste material. Além disso, o ionômero possui uma aderência química ao dente, responsável por essa compatibilidade.
4.Alta solubilidade nas horas iniciais
5.Tempo de presa demorado - Issoocorre devido à liberação extremamente lenta dos íons de alumínio do pó dovidro. Como o material não fica totalmente endurecido, as primeiras 24 horasapós a aplicação deste material se tornam críticas8. O cimento ionomérico ficasusceptível a alteração higroscópica do meio. Ele pode sofrer os processos desinérese e embebição, que são a perda ou ganho de água para o meio externo,respectivamente. Ocorre assim, um alto potencial de solubilidade com as suaspropriedades mecânicas não alcançando um padrão satisfatório.
6.Alta opacidade
7.Resistência mecânica inferior às das resinas (compósitos), logo são materiais mais vulneráveis aos desgastes. Não são recomendados como materiais para restaurações em áreas sujeitas às forças mastigatórias.
·Reação de presa
A reação ocorre quando o ácido poliacrilico perde H+ das suas carboxilas. Esses H+ reagem com as partículas de pó que liberam cálcio2+ , alumínio3+, Na+ e flúor. Tanto o cálcio quanto o flúor vão se ligar aos espaços ocupados antes pelo H+, onde os íons cálcio formam ligações cruzadas entre as cadeiras de ácido poliacrilico, e no decorrer de 24h, o alumínio fará essas ligações com três cadeias de ácido poliacrilico. Essas ligações conferem ao cimento de ionômero de vidro alta resistência, pois o cimento não terá “material solto”. Além disso, a carboxila sem o H+ também fará ligação com o cálcio da dentina, sendo o único cimento que possui uma adesividade química com a estrutura dental.
Assim como o cimento de fosfato de zinco, as partículas do pó não serão totalmente diluídas, apresentando remanescentes envoltos de gel de sílica (formado pela reação com o líquido). Essas partículas remanescentes também se ligarão as carboxilas sem H+ do ácido poloacrilico, conferindo mais resistência ao cimento.
·Mecanismo de Adesão
CIV se adere à superfície dental por meio de quelação dos grupos carboxílicos dos ácidos poliacrílicos com o cálcio presente na hidroxiapatita do esmalte e dentina . ADESÃO QUÍMICA!
·Manuseio
Ler a bula. Agitar o frasco do pó para soltar o pó de dentro do recipiente. Dispensar pó e líquido de acordo com o fabricante (geralmente, na proporção de 1:1) , deixando uma parte de pó reservada no canto do bloco.Dividir o pó em duas partes. Desprezar a primeira gota do líquido (para retirar a possível bolha de ar presente no conta gotas). Utilizar o frasco na vertical, em uma posição de 90º. Aglutinar uma parte por vez do pó com o líquido, durante 15s cada parte (com o auxílio de uma espátula plástica) Realizar a inserção do material na cavidade enquanto o mesmo ainda apresenta brilho, com o auxílio de uma espátula nº 1. O brilho é indicação clínica que existem grupos carboxílicos disponíveis no CIV que possam quelar o Ca ou se unir a ele, presente da estrutura dentária (adesão química). Se material não exibir esse brilho, ele deve ser descartado.